sexta-feira, 28 de março de 2008

Janela

Não sei o que é pior. Trabalhar de frente ou de costas para uma janela que deixa o sol e o Cristo Redentor entrarem no escritório.
Trabalhar de costas deve ser horrível, mas não é o meu caso. As pessoas têm que ficar olhando só para o cinza e para os tons pastéis que compõem a sobriedade de um ambiente de trabalho convencional. Irritante, muito irritante. Queremos logo ver cores, gente se movendo, rindo, feliz, como em um fim de semana com praia e jogo do flamengo.
Mas igualmente difícil é olhar para a janela (sem cortina) e querer pular em direção à cidade. "O dia está lindo", ela me diz. "Não, não posso, não agora. Não vê que estou trabalhando?", respondo eu (em pensamento, claro).
Resumindo: trabalhar em uma sala com ar condicionado é sempre muito difícil para quem gosta da cidade. A gente quer fazer parte dela o tempo todo, descobrí-la, brincar com ela, posar para fotos, enfim. Com ou sem janela, o melhor mesmo é estar lá fora.
Janelas ingratas. Ruim com elas, pior sem elas. Ainda bem que hojé é sexta-feira...

sexta-feira, 21 de março de 2008

Tradição de família

Hoje, cheguei a Bom Jesus para o feriado Santo. Todos da família haviam acordado cedo para preparar o bacalhau do almoço. O sítio estava aberto e em movimento, conforme a tradição.
Papai me contou que, na sexta-feira da paixão, os produtores de leite têm o costume de distribuir toda ou parte da produção do dia. O pai dele fazia o mesmo. Quando menino, o meu pai ficava ao lado do vovô na porteira do pequeno sítio, distribuindo leite para os vizinhos. Cinco litros para uns, três para outros, dependendo, creio eu, do tamanho da família. O leite tinha destino certo: encher até a boca a panela de canjicão.
Gostei da história, gostei ainda mais de saber que meu tio continua mantendo o costume. Esse é o lado bom das cidades pequenas, as pessoas aprendem algo bonito e levam adiante. Não é como no Rio, onde o trânsito, a boate, o teatro ou o medo nos fazem esquecer de algumas tradições.
É assim que eu me sinto lá. Vejo que esqueço de muita coisa. Por exemplo, da privação de carne que gosto de manter desde a quinta-feira santa. Ontem, comi carne picadinha no jantar.
Picadinha andava a minha fé. Sempre que volto para cá, lembro mais dela. Não necessariamente em relação à Igreja, mas em relação a Deus. Penso Nele e agradeço, até por não morar mais aqui. Estar fora significa muito.
Em relação às tradições, tenho tudo para me identificar com a Páscoa. Os antepassados do meu pai eram judeus e a família da minha mãe é toda católica. Ambas têm histórias muito boas para contar sobre essa data.
Os judeus passaram 40 anos no deserto, fugindo da escravidão do Egito em busca da Terra Prometida. Eles chegaram lá e esse é o motivo da celebração. Espero que, em poucos anos, celebremos também a Paz entre os filhos de Deus e os filhos de Alá, na verdade, irmãos.
Minha mãe me contou a história: O profeta Abraão teve duas mulheres e um filho com cada uma. Issac nasceu de Sara e deu origem ao povo judeu. Ismael nasceu de Agar, dando início ao povo palestino. Como assim, então, terem Deuses diferentes se nasceram do mesmo Pai?
O meu lado judeu me ensina algo sobre esperança e coragem. Sobre sair de um lugar em busca de outro, que me pertença e onde eu me sinta livre. E nessa busca pela "minha terra prometida", vale até abrir o mar ao meio, usando apenas a fé.
Mas não foi com o meu lado judeu que aprendi a respeitar meus meio-irmãos. Acho que esse é o desafio mais imediato desse povo.
O meu lado cristão falo mais alto em mim. E não tenho vergonha de assumir, apesar das religiões ocidentais não estarem na moda. Pelo menos é isso que eu aprendo na faculdade.
Sem falar da instituição Igreja e de todas as coisas feias que os homens fizeram através dela, meu papo é direto com Cristo, a quem admiro muito. Ele me ensinou que vale a pena morrer (e nascer de novo) por quem se ama.
E para quem não acredita em milagres: Consegui resistir a uma travessa de brigadeiros hoje de tarde. Sim, eles também acontecem nas pequenas coisas. A gente é que não repara.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Conceito

Nesta noite, já não conseguindo dormir, não paro de pensar sobre desgaste, amizade e, principalmente, sobre como é ruim vê-los andar juntos.
Aconteceu comigo e com duas amigas na mesma semana. Difícil achar um ombro para desabafar. O motivo é muito simples, o ombro também fala. E quer falar na sua frente.
Esses ombros tagarelas me confundem. Queria eu que, além de bocas, eles também tivessem ouvidos. Porque quando você está chorando pelo fim de um relacionamento não é o mesmo que quando seu amigo descobre que a menina mais bonita da sala mudou de turma.
Nessas horas eu me pergunto: Será que tem sempre que girar em torno de alguém?
Cada um é obviamente único e nenhum problema é igual. Para que eles te dizem que você pode desabafar se ele fala o tempo todo, não te ouve? E ainda mais, para que comparar as histórias?
Eu me lembro que quando operei a coluna, minhas melhores amigas, estudiosas como eu, disseram que não podiam ir me visitar todos os dias porque estavam estudando para as provas. Nenhuma delas me levou anotações das aulas ou coisas do tipo.
Por outro lado, uma amiga distante do curso de inglês foi me ver em casa e passou uma tarde inteira me fazendo rir com as maluquices dela. Jamais podia esperar.
Quando voltei às aulas e comecei a chorar no meio da prova de matemática, porque não sabia fazer nada, elas me perguntaram porque eu não pedi que elas fossem lá em casa me ensinar? Ora, simplesmente porque operada, dolorida e em casa eu consigo aprender muito mais por osmose e telapatia!
Uma delas continua sendo minha melhor amiga. Quando estava triste e precisando de um banho de mar, ela me levou à praia, ouviu tudo o que eu tinha para dizer, perguntou, opinou e ficou lendo na areia enquanto eu fui mergulhar. Não me comparou a ela, não falou nada sobre ela, até que eu terminasse. Foi a demonstração mais sincera de amizade que eu tive neste ano.
Fica mais fácil entender os ombros quando nos damos conta de que eles não passam de pessoas. Cheias de contadições, vícios e até egoísmo. Até? Principalmente!
É mais fácil também perdoar, mesmo que eles não peçam perdão. E se há alguma coisa que a gente aprende com isso é que o melhor amigo mesmo, de cada um, é seu bom senso... ou a sua mãe. No meu caso, ela.
A não ser que nós humanos passemos a criar laços de amizade com outros seres menos comunicativos, como árvores, flores e bichos-preguiça, vamos ter que aprender a lidar com o outro, contar menos problemas e fingir que ouve. Vão fazer a mesma coisa com você um dia...

terça-feira, 11 de março de 2008

Um post-it!

Andamos correndo tanto nessa cidade que não me surpreenderia se alguém terminasse o namoro por um pos-it colado na tela do computador: "Valeu por tudo, mas não dá mais. Juro que eu tentei."
Aconteceu isso no meu episódio favorito de Sex and The City e quase acontece hoje comigo. Não porque estávamos com pressa ou porque não tínhamos coragem de dizer. É que essa seria a forma mais engraçada de terminar tudo. Vimos esse episódio juntos e rimos de rolar no chão. Foi ele quem deu a idéia do post-it, a gente quase aceitou.
Logo depois disso, pensei em um uso mais terapêutico do papelzinho. "Que tal RECOMEÇAR por um post-it?", escrevi, obviamente em um deles, de papel reciclado. Ele ainda não viu, surpresa!
Lição do dia: Não acabe com o que te faz feliz, mesmo que seja de forma irreverente.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Só se for a dois...

Já dizia Jesus Cristo (agora não tenho certeza se foi Ele ou um dos apóstolos): "Melhor serem dois do que um, assim um ajuda o outro."

sábado, 8 de março de 2008

Reconciliação

Ele não queria conversa. Turvo, bravo e batendo muito, sua única intenção era me tirar dali.
Há muito tempo não aparecia e quando cheguei foi de surpresa. Recusava convites para visitá-lo, simplesmente não estava a fim.
Mas eu precisava de um mergulho. Dizem que a água do mar cura ressaca. Pensei comigo, será que também cura tristeza?
Curar não curou, mas eu mergulhei várias vezes na esperança de lavar a minha alma. E fui insistente, as ondas me jogavam na areia, tomei alguns caldos, mas eu sempre voltava. Depois de algum tempo e com muito esforço, o mar começou a me respeitar.
Foi assim que consegui meus mergulhos e aprendi algo mais sobre insistência e fé. Eu acreditava que aquela água podia me fazer bem, e fez. Saí de lá menos triste.
Vai soar brega, mas fiz as pazes com o mar. Andamos muito distantes por um tempo, eu só passava do outro lado da rua, como contei aqui uma vez. Hoje foi o dia da redenção. Não se deve dar as costas para ele, não por muito tempo.

Verdade

"Pior do que uma mulher que fala é uma mulher que escreve."



Acreditem, tirei essa frase de um anúncio publicitário da Revista Caras. Não sei quem é o autor ou a autora. Agora ela é minha, assim como tudo que amo. Viva a ironia!

quinta-feira, 6 de março de 2008

Um post ao bairro

A sensação já começava na descida da Boa Viagem, eu via o MAC, ou o Disco Voador, como chamava quando era criança. Meu bairro favorito era São Francisco, mas eu sabia que ia acabar morando em Icaraí.
Se a praia fosse limpa eu não iria fazer mais nada da minha vida. Imagina só, uma praia limpa tão perto de casa? Só nos meus sonhos mesmo, o lugar mais perto que chego dela hoje é o ponto de ônibus, do outro lado da rua. Quase nada é perfeito.
Mais triste do que isso é ser um jornalista conhecido, ter um nome sonoro que de tão sonoro vira nome de rua: Avenida Jornalista Alberto Francisco Torres e de nada adiantar ter fundado o Jornal O Povo. A avenida do Alberto é conhecida apenas como "Rua da Praia". Eu disse apenas? Quem me dera se toda rua fosse assim...
Mas se o meu foco neste post é a praia, há algo de errado com o meu perfil. Ando meio gordinha, não faço caminhadas no calçadão ou na areia, trabalho um pouco e confesso que vivo com preguiça. Se tenho parecido um tanto noturna e faminta é porque a Gruta é do lado da minha casa, o Ponto Jovem é em frente, o Ícaro é na esquina e o Nakami é logo ali, pelo menos uma comida japa para salvar o cardápio. Duas amigas que eu tenho na minha rua são cúmplices, fora as outras duas da faculdade com quem jantei hoje. Até meus amigos cariocas saem lá de Jacarapaguá para vir jantar comigo de vez em quando. Ando muito mal acostumada, esse bairro faz isso com as pessoas.
Só que aqui dá medo às vezes. Li isso uma vez em um livro sobre a África: As cidades dos trópicos têm tudo que aproxima e afasta, tudo que causa admiração e nojo. Como em qualuqer outro bairro metropolitano, há assaltos a bancos, roubos, pânico de sair na rua tarde da noite. Podem levar seu carro enquanto espera a namorada descer do prédio. Por falar em prédio, Quando você acha que já tem muitos, é porque ainda não viu os que estão construindo. Parece que um dia todos vão te engolir e você não vai conseguir olhar mais para o céu.
Apesar dos problemas, quando se nasce para ser urbano, nada tira isso de você. Nem a tranquilidade do interior ou do exterior. Se você é como eu, a cidade acompanha seu ritmo, ela não pára.
Por isso eu digo que não há região oceânica que me atraia. Eu nasci em Bom Jesus, mas sou de Niterói e amo Icaraí. Como compormisso à minha vizinhança, devo fazer algo para melhorá-la, a começar por essa homenagem.

domingo, 2 de março de 2008

O que há de bom em se ter um dia internacional

Chega daquele papo feminista com o qual eu também concordo. Afinal, todas nós, mulheres independentes e felizes com o que são sabem que um dia internacional no mês de março não significa nada para quem já tem todos os outros dias do ano.
Mas há algo de bom no luxo fugaz de se ter um dia especial: Os descontos em restaurantes, bares, salões de depilação, etc e etc que nós, representantes do sexo frágil, recebemos neste mês.
Hoje fiquei sabendo que até o Porcão dá desconto de 50% para as mulheres. Certamente vou jantar lá ainda nesta semana. Se tem algo de bom em toda essa hipocrisia de Dia Internacioan da Mulher são os descontos que fazem até os homens se sentirem discriminados, querendo, quem sabe, criar também um dia internacioanl para eles.
Parei de ter pena das mulheres há muito tempo, desconfio até que nunca tive. Ainda mais agora que somos maioria nas universiades, favoritas a uma vaga de emprego de nível superior pela organização e disciplina, meras características do gênero. É possível se divorciar sem se arrepender e, como dizia Ivana Trump em "O clube das desquitadas" (acho que foi ela): "Não fique triste, fique com tudo". Mamãe sempre me diz isso.
Não posso ter pena de quem está sim se saindo muito bem no mundo e antes mesmo que os jornais comecem a lembrar que as mulheres ainda ganham menos, para tentar justificar esse dia, sou obrigada a dizer que as antiquadas empresas que fazem isso estão com os dias contados. Até esse dia está com os dias contados.
Mas enquanto o Oito de Março existe vou aproveitar ao máximo: os descontos e as flores que recebo na rua, sem hipocrisia.