sexta-feira, 21 de março de 2008

Tradição de família

Hoje, cheguei a Bom Jesus para o feriado Santo. Todos da família haviam acordado cedo para preparar o bacalhau do almoço. O sítio estava aberto e em movimento, conforme a tradição.
Papai me contou que, na sexta-feira da paixão, os produtores de leite têm o costume de distribuir toda ou parte da produção do dia. O pai dele fazia o mesmo. Quando menino, o meu pai ficava ao lado do vovô na porteira do pequeno sítio, distribuindo leite para os vizinhos. Cinco litros para uns, três para outros, dependendo, creio eu, do tamanho da família. O leite tinha destino certo: encher até a boca a panela de canjicão.
Gostei da história, gostei ainda mais de saber que meu tio continua mantendo o costume. Esse é o lado bom das cidades pequenas, as pessoas aprendem algo bonito e levam adiante. Não é como no Rio, onde o trânsito, a boate, o teatro ou o medo nos fazem esquecer de algumas tradições.
É assim que eu me sinto lá. Vejo que esqueço de muita coisa. Por exemplo, da privação de carne que gosto de manter desde a quinta-feira santa. Ontem, comi carne picadinha no jantar.
Picadinha andava a minha fé. Sempre que volto para cá, lembro mais dela. Não necessariamente em relação à Igreja, mas em relação a Deus. Penso Nele e agradeço, até por não morar mais aqui. Estar fora significa muito.
Em relação às tradições, tenho tudo para me identificar com a Páscoa. Os antepassados do meu pai eram judeus e a família da minha mãe é toda católica. Ambas têm histórias muito boas para contar sobre essa data.
Os judeus passaram 40 anos no deserto, fugindo da escravidão do Egito em busca da Terra Prometida. Eles chegaram lá e esse é o motivo da celebração. Espero que, em poucos anos, celebremos também a Paz entre os filhos de Deus e os filhos de Alá, na verdade, irmãos.
Minha mãe me contou a história: O profeta Abraão teve duas mulheres e um filho com cada uma. Issac nasceu de Sara e deu origem ao povo judeu. Ismael nasceu de Agar, dando início ao povo palestino. Como assim, então, terem Deuses diferentes se nasceram do mesmo Pai?
O meu lado judeu me ensina algo sobre esperança e coragem. Sobre sair de um lugar em busca de outro, que me pertença e onde eu me sinta livre. E nessa busca pela "minha terra prometida", vale até abrir o mar ao meio, usando apenas a fé.
Mas não foi com o meu lado judeu que aprendi a respeitar meus meio-irmãos. Acho que esse é o desafio mais imediato desse povo.
O meu lado cristão falo mais alto em mim. E não tenho vergonha de assumir, apesar das religiões ocidentais não estarem na moda. Pelo menos é isso que eu aprendo na faculdade.
Sem falar da instituição Igreja e de todas as coisas feias que os homens fizeram através dela, meu papo é direto com Cristo, a quem admiro muito. Ele me ensinou que vale a pena morrer (e nascer de novo) por quem se ama.
E para quem não acredita em milagres: Consegui resistir a uma travessa de brigadeiros hoje de tarde. Sim, eles também acontecem nas pequenas coisas. A gente é que não repara.

Um comentário:

  1. Pensei que não iria a BJ nesse feriado, mas que bom que gostou de ir! Acho difícil nao pensar n'Ele indo a "Bom Jesus"... Mas é só um pensamento meu, achismo :p

    Tradições... Não realmente morei no Rio pra saber de tradições, mas já mudei tanto de cidade que entendo bem o que é esquecer tradições e perceber que você as esqueceu é algo triste, como se tivesse perdido uma parte de você. Não quero também bancar a tradicionalista, mas tradições são sim importantes.

    Continue postando!

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