terça-feira, 29 de janeiro de 2008

As melhores coisas

Desde sempre eu soube que a melhor sensação de todas é a de alívio e que uma das melhores coisas da vida é chegar em casa. Se descobrirem outra nem me avisem, porque eu não vou mudar de idéia.
Deveria ser feriado no Rio quando chove, assim como é em algumas cidades dos Estados Unidos, quando neva. Se a cidade pára porque é que a gente não pode parar? "A gente" inclui pessoas de Niterói também.
Hoje eu dei Graças a Deus por ter chegado em casa, em um dado momento achei que fosse impossível, mas não. Foi apenos demorado.
Fiquei aliviada ao colocar minhas calças de moleton, prender o cabelo e escovar os dentes. Só torço para que um dia eu consiga escrever algom bom sobre cidades grandes. Pelo menos alguma coisa que justifique eu ter vindo morar aqui.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Os amores e as cidades

Tinha 14 anos quando recebi a primeira carta de um garoto. Ele tinha 17. A carta, na verdade, era uma interpretação da música "Monte Castelo", do Legião Urbana.
A canção é linda. Renato Russo mistura o primeiro capítulo da Carta de São Paulo aos Coríntios com uma poesia de Camões, todos os versos falam de amor.
Eu me lembrei da música e de como as coisas boas permanecem, mesmo depois que o relacionamento acaba. E levamos as coisas boas conosco, passamos adiante, para os novos alvos de nossos amores.
Por causa disso, hoje, no carro, com meu adorável companheiro, comecei a pensar no amor e em como ele acontece. Fiquei me perguntando se os lugares onde estamos interferem em nossos sentimentos e nem precisei ir muito longe. As cidades inspiram o amor, cada uma a seu modo.
Nas cidades pequenas existem as praças onde os casais se encontram para o primeiro beijo e para os outros que se seguem. Nss praças, existem bancos com corações rabiscados com ponta de chave. Nos bancos e em cada rabisco, muitas histórias. E como são lindos esses amores provincianos e adolescentes...
Nas cidades grandes existem os cinemas e nenhum interesse pelo filme. Queremos apenas encontrar um jeito de beijar quem está do nosso lado. Algumas borboletas vão parar no estômago e, quando voam, fazem você perceber que o garoto ou homem do seu lado é diferente dos seus amigos.
Eu me pergunto: As cidades e as pessoas mudam, mas o que acontece com o amor? O sentimento é o mesmo e o resto muda?
Isso não é uma reflexão. Eu realmente não sei a resposta. A única coisa que eu sei é que, há alguns minutos atrás, me dei conta das coisas boas que podemos levar de um relacionamento para o outro, sendo ele bom ou não.
Uma dessas coisas boas é a música. Ao contrário do que pensava, ela não te remete ao passado, torna apenas o presente mais interessante. Percebemos que temos alguma bagagem e que, por isso, saberemos superar os enganos, mas principalmente, desfrutar dos novos prazeres. Com repertório e bom gosto.

E para quem não conhece:

"Ainda que eu falasse a língua dos homens
e falasse a língua do anjos, sem amor, eu nada seria.

É só o amor, é só o amor
que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal.
Não sente inveja ou se envaidece.

O amor é o fogo que arde sem se ver.
É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
É dor que desatina sem doer.

Ainda que eu falasse a língua dos homens
e falasse a língua do anjos, sem amor, eu nada seria.

É um não querer mais que bem querer.
É solitário andar por entre a gente.
É um não contentar-se de contente.
É cuidar que se ganha em se perder.

É um estar-se preso por vontade.
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.

Estou acordado e todos dormem, todos dormem, todos
dormem.
Agora vejo em parte. Mas então veremos face a face.

É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.

Ainda que eu falasse a língua dos homens
e falasse a língua do anjos, sem amor, eu nada seria."



Monte Castelo - Renato Russo

Um clichê de qualquer cidade: As amigas

Daqui a pouco elas estão chegando. Três delas. Minhas amigas, para mais uma tarde de conversa e gulosices. Ainda não fumamos e bebemos pouco, quando nos encontramos é para comer doce.
Onde quer que nós mulheres estejamos, precisamos tratar logo de fazer amigas. Isso é muito clichê, mas quem consegue viver sem elas?
As amizades mudam de acordo com as cidades e o que você vive em cada uma.
As amigas do interior são de infância. Compartilhamos a chegada de tudo o que é importante na vida de uma garota, dos 4 anos de idade até agora: a primeira vez que conseguimos amarrar o tênis, a primeira vez que fomos para a escola sem merendeira, o primeiro sutiã, o primeiro garoto da 8º série que seria o futuro namorado e a primeira vez que uma de nós ficou noiva.
São elas que eu visito sempre quando volto para casa. Em todos os meus aniversários elas aparecem e, nas fotos, estamos todas rosadas ( porque fevereiro faz calor e tem carnaval), algumas ainda de aparelho nos dentes, e de mãos dadas com algum garoto, o que pode mudar de ano para ano.
Essas amigas virão para a minha formatura em um pequeno ônibus, que provavelmente terei que alugar. Sem elas eu não me formo. Estudamos juntas por anos e agora sai o primeiro resultado realmente significante e maduro de tudo isso para mim.
Quando eu casar, terei umas dez madrinhas e o meu marido terá que convidar as outras para serem madrinhas do lado dele também. Todas as minhas amigas estarão de pé na Igreja comigo, ao lado do altar. Não terei daminhas de honra e sim, amigas levando as alianças.
As amigas de cidades nem tão grandes nem tão pequenas, como Campos, são aquelas que me alertaram: "Ok, ano que vem você faz 18 anos, pare de se comportar como se tivesse 12."
Tomávamos sorvete juntas na hora do almoço, antes de voltar para a escola, para a jornada da tarde. Uma delas disse no primeiro dia de aula que queria ser neurocirurgiã e eu pensei: "será que eu teria essa mesma precisão para saber o que eu quero ser?"
Certamente eu não tinha, mas elas me ajudaram a encontrar. Amigas de Campos me ajudaram a crescer e a ter boas histórias para dizer aos meus filhos.
As amigas do trabalho moram todas no Rio. Viajamos para um congresso juntas e pulamos na cama quando chegamos no quarto do hotel. De tanta felicidade, por sermos amigas e por termos viajado com o resto do pessoal. Somos crianças num corpo de gente grande. Falamos do trabalho e de como ele nos uniu. Agora que não trabalhamos mais juntas, restou a amizade e esse foi o melhor fruto de todos os possíveis.
As amigas do Rio acham que eu devo morar lá, mas eu gosto de Niterói. Quero continuar assim: Vou ao Rio, mas volto para casa. Tenho sempre que visitar minhas amigas cariocas, mas, na maioria das vezes, elas que me visitam aqui.
Niterói, aliás, é um ótimo lugar para fazer amigas, mesmo que você as conheça no outro lado da ponte. Conheci minha melhor amiga da faculdade toda pintada de tinta, dentro do ônibus, em pé, após um longo dia de trote na Praia de Copacabana. Eu estava exatamente como ela, um pouco mais assustada, por que eu tinha acabado de chegar de Bom Jesus. Ficamos amigas no meio da ponte Rio-Niterói.
Logo depois conhecemos outra niteroinse, alguns centímetros abaixo do nosso campo de visão, e foi assim que nos tornamos um trio.
Elas vêm aqui hoje junto com uma futura administradora de empresas, igualmente amiga e com uma memória incrível após uns goles de vodka durante uma festa junina.
Mais um clichê: As amigas são a família que escolhemos.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Vantagem: Cidades pequenas não têm empresas de RH

Se você já fez ou faz faculdade aqui no Rio ou em qualquer outra grande cidade, já deve ter estado em uma delas: empresas de RH. Essas que contratam funcionários e, na minha experiência, estagiários para outras empresas.
Mas se você fosse eu, acharia esses lugares uma chatice com pessoas que não sabem do que e para quem estão falando. Hoje estive em uma delas e foi um desastre.
A vaga é para uma revista muito conhecida e eu faço jornalismo, logo, um sonho de estágio. Mas chegando na sala onde também estava a gestora da revista, assim chamada pela empresa de RH, nós, os candidatos, tivemos que nos prestar a brincadeiras que eu não faço desde que minha altura não alcançava a maçaneta da porta.
"Bom, pra quebrar o gelo, vamos fazer uma roda, vocês dizem o nome e fazem um gesto, quem está do seu lado vai fazer a mesma coisa, além de repetir o nome e o gesto das pessoas que falaram antes de você, certo?"
Errado. Oooooiiii? Naquele momento não soube responder o que estava fazendo ali. Tentando manter a cordialidade e o cumprimento da tarefa falei meu nome e fiz um gesto que aprendi com minha prima, ela se comunica também com a linguagem dos sinais. O gesto significa avô e foi o primeiro que aprendi com ela. Veio logo na cabeça.
Nada melhorou depois da roda. Senti logo que a dinâmica estava ficando ainda pior quando a consultora de RH começou a distribuir papel e a pedir que as pessoas fossem até a mesa pegar revistas, cola e tesoura. O objetivo era fazer uma colagem com imagens que representassem você como é hoje, o que você quer mostrar para a revista e como você se vê no futuro.
O psicólogo que era professor da minha mãe na pós-graduação pedia a mesma coisa pra gente. Como não tinha com quem nos deixar, minha mãe levava minha irmã e eu para a aula e, para ficarmos quietas, ele pedia que fizéssemos desenhos ou coisas assim, para analisar depois. Eu tinha sete anos.
Queria ter feito a colagem de uma "chinfurímpula", não sei nem como é que se escreve. Só sei que lembrei do Chaves na aula do professor Girafales desenhando o tal objeto, que ele também não sabia para que servia.
É assim que eu me vejo hoje. Sou uma "chinfurímpula" que não conhece sua utilidade. Eu conhecia, até chegar naquela dinâmica, ver que só tinha uma vaga e que eu, talvez, não fosse boa o suficiente para ocupá-la.
Será que sou a única?

domingo, 20 de janeiro de 2008

Start spreading the news, I'm leaving today... I want to be a part of it, Rio, Rio...

Provavelmente eu estava cantando essa música quando saí de Campos para não morar mais lá. Se Fred Ebb e John Kander não tivessem escrito "New York, New York" eu teria escrito "Rio, Rio" com a mesma letra, dentro do carro do meu pai, enquanto levávamos minhas coisas provisoriamente para Bom Jesus.
O que eu tinha mesmo que fazer era inventar um bom motivo para vir para o Rio. Nada melhor do que passando no vestibular, nada mais aceitável. "A man has got to do what a man has got to do" e uma mulher também..., foi assim que eu vim parar em Niterói. Sim, porque o Rio fica perto.
Agora "I am a part of it", mas eu não acordo na cidade que nunca dorme, porque prefiro dormir do lado de cá.
Ainda me pergunto se algum dia vou precisar de um motivo para sair daqui, mas sei que dessa vez será mais difícil encontrá-lo. Certamente não haveria música, porque não seria uma mudança feliz. Nesse caso, acho que vou ficar por muito tempo.

Os dois lados da poça e alguns quilômetros ao norte

Dizem os cariocas que o melhor de Niterói é a vista para o Rio de Janeiro. Pois eu digo que os benefícios são bem maiores. Do lado de cá da poça há um pouco menos de violência, menos trânsito e menos gringos tarados. Consigo chegar mais rápido aos lugares, que não são muitos, o que diminui minhas dúvidas. E quando quero confusão, o Rio está logo ali.
Por amar tanto essas duas cidades, eu não sei responder com total certeza onde realmente moro. Quando alguém de Bom Jesus me faz essa pergunta, eu dou uma longa explicação. "O apartamento fica em Niterói e é lá que eu durmo, mas faculdade e estágio ficam no Rio, eu chego em casa tarde".
Se eu ainda levar em conta Bom Jesus, a explicação fica mais longa ainda. Lá estão residência fixa, família, amigos de infância e fotos de tudo isso. Se eu enjoar daqui, ou nada der certo e eu desistir sob o pretexto de ter virado hippie, eu tenho uma casa pra poder voltar.
Tudo isso me leva a crer que eu ainda não defini o que é e onde fica o meu lar. Afinal, o que uma cidade precisa ter para ser classificada como lar? Em qual lado da poça ele está ou eu devo viajar mais de 400 quilômetros para encontrá-lo? A verdade é que, por enquanto, eu vivo em três cidades e não sei qual é a minha.