sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Os amores e as cidades

Tinha 14 anos quando recebi a primeira carta de um garoto. Ele tinha 17. A carta, na verdade, era uma interpretação da música "Monte Castelo", do Legião Urbana.
A canção é linda. Renato Russo mistura o primeiro capítulo da Carta de São Paulo aos Coríntios com uma poesia de Camões, todos os versos falam de amor.
Eu me lembrei da música e de como as coisas boas permanecem, mesmo depois que o relacionamento acaba. E levamos as coisas boas conosco, passamos adiante, para os novos alvos de nossos amores.
Por causa disso, hoje, no carro, com meu adorável companheiro, comecei a pensar no amor e em como ele acontece. Fiquei me perguntando se os lugares onde estamos interferem em nossos sentimentos e nem precisei ir muito longe. As cidades inspiram o amor, cada uma a seu modo.
Nas cidades pequenas existem as praças onde os casais se encontram para o primeiro beijo e para os outros que se seguem. Nss praças, existem bancos com corações rabiscados com ponta de chave. Nos bancos e em cada rabisco, muitas histórias. E como são lindos esses amores provincianos e adolescentes...
Nas cidades grandes existem os cinemas e nenhum interesse pelo filme. Queremos apenas encontrar um jeito de beijar quem está do nosso lado. Algumas borboletas vão parar no estômago e, quando voam, fazem você perceber que o garoto ou homem do seu lado é diferente dos seus amigos.
Eu me pergunto: As cidades e as pessoas mudam, mas o que acontece com o amor? O sentimento é o mesmo e o resto muda?
Isso não é uma reflexão. Eu realmente não sei a resposta. A única coisa que eu sei é que, há alguns minutos atrás, me dei conta das coisas boas que podemos levar de um relacionamento para o outro, sendo ele bom ou não.
Uma dessas coisas boas é a música. Ao contrário do que pensava, ela não te remete ao passado, torna apenas o presente mais interessante. Percebemos que temos alguma bagagem e que, por isso, saberemos superar os enganos, mas principalmente, desfrutar dos novos prazeres. Com repertório e bom gosto.

E para quem não conhece:

"Ainda que eu falasse a língua dos homens
e falasse a língua do anjos, sem amor, eu nada seria.

É só o amor, é só o amor
que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal.
Não sente inveja ou se envaidece.

O amor é o fogo que arde sem se ver.
É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
É dor que desatina sem doer.

Ainda que eu falasse a língua dos homens
e falasse a língua do anjos, sem amor, eu nada seria.

É um não querer mais que bem querer.
É solitário andar por entre a gente.
É um não contentar-se de contente.
É cuidar que se ganha em se perder.

É um estar-se preso por vontade.
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.

Estou acordado e todos dormem, todos dormem, todos
dormem.
Agora vejo em parte. Mas então veremos face a face.

É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.

Ainda que eu falasse a língua dos homens
e falasse a língua do anjos, sem amor, eu nada seria."



Monte Castelo - Renato Russo

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