quarta-feira, 25 de março de 2009

Certeza


Aos 14 anos não passava de uma criança, mas sabia de tudo, tinha resposta para qualquer pergunta. Cresci e, como qualquer adulto, já não sei de mais nada... gente grande se perde, mas, de vez em quando, consegue achar o caminho de volta, exatamente ao se lembrar da época em que começou a se tornar a pessoa que é hoje. Aos 14, comecei a minha história, do meu jeito e com escolhas próprias. Quis sair de Bom Jesus, fiquei triste quando meus pais não me deixaram, resolvi fazer Engenharia Química, me apaixonei pela primeira vez... E como a vida tem trilha sonora, não podia deixar de relembrar a música que marcou essa época: "Giz", do Legião Urbana.



E mesmo sem te ver

Acho até que estou indo bem

Só apareço, por assim dizer

Quando convém aparecer ou quando quero

Quando quero

Desenho toda a calçada

Acaba o giz, tem tijolo de construção

Eu rabisco o sol que a chuva apagou

Quero que saibas que me lembro

Queria até que pudesses me ver

És parte ainda do que me faz forte

E, pra ser honesto

Sou um pouquinho infeliz

Mas tudo bem

Tudo bem, tudo bem...

Lá vem, lá vem, lá vem de novo

Acho que estou gostando de alguém

E é de ti que não me esquecerei

Tudo bem, tudo bem...

Eu rabisco o sol que a chuva apagou

Tudo bem, tudo bem... Acho que estou gostando de alguém

Tudo bem, tudo bem...

sábado, 7 de março de 2009

Um (a) bonjesuense sempre por perto...


Sim, estamos por toda parte! E, invariavelmente, somos capazes de tornar a vida de outro semelhante um pouco melhor. Somos de Bom Jesus!

Tudo começou assim: Meu namorado me chamou para ir a um concerto na Sala Cecília Meirelles no Rio. Que me perdoem os cultos e eruditos, mas nunca havia ido a um concerto de verdade, se é que algum dia já conheci um de mentira.

Saí do trabalho um caco, levando em conta o calor que tem feito nesta cidade abaixo dos trópicos. Precisava de uma escova no cabelo e de unhas feitas, para ontem. No Centro, onde trabalho, existe de tudo, mas desconfio que os melhores salões do bairro estejam mesmo na Rua Sete de Setembro, que faz esquina com a Primeira de Março. Andei um pouco até chegar lá e fui direto ao Shopping Vertical:

_Moço, tem salão aqui neste prédio? Qual é o andar?

Fui parar no segundo, em um salão lindo, "provavelmente caro", pensei. Disse para a atendente que precisava fazer as unhas e ela respondeu que não havia horário disponível. Fiz cara de triste. A atendente perguntou o meu nome e eu falei, já sem esperança. Para minha suspresa, a moça que estava ao lado dela vira para nós duas e diz:

_Sabia. Você não está me reconhecendo. É a Pollyana filha do Esio?

Eu mesma, a filha do meu pai.

Ela continuou:

_ Eu sou de Bom Jesus também! Você pode aguardar 15 minutos que alguém vem fazer as suas unhas e a sua escova.

E assim foi feito. Com uma manicure muito simpática, a Lucia, e um cabeleireiro muito simpático, o Arnaldo. Ahh! Esqueci de dizer: Meu anjo da guarda para assuntos de beleza se chama Simone!

Obs: Tente arranjar um salão limpo e decente sem marcar hora no Centro do Rio de Janeiro sem anjo da guarda! No mínimo, você vai precisar de sorte. Eu preciso de Bom Jesus...

Agora, sem nenhuma suspresa e apenas a título de registro: O nome do salão é Espaço 7! Logo 7, meu número favorito de todo o sempre! Merece uma propagandinha básica!


Espaço 7 - Centro de Estética

Rua Sete de Setembro, 48, loja 207 (Meu Deus, olha o 7 de novo!)

Vertical Shopping - Centro - Rio de Janeiro

Telefone: (21) 2509 - 7663/ 3852 - 7078/ 2221 - 5407


Rua macedo Sobrinho, 4b

Humaitá - Rio de Janeiro

Telefone: (21) 2226 - 0411

quarta-feira, 4 de março de 2009

O refúgio


Cheguei em casa por volta das 19 horas, fazia muito calor e eu precisava de um banho gelado. Após o banho, coloquei uma roupa fresca, peguei minha caneca, a enchi de água, liguei o ventilador da sala e a televisão, sentei no sofá em L e, quase deiada, comecei a pensar: "Exatamente aqui é o meu refúgio, alcançado com paixão e pouco esforço". Suspirei. Para muita gente, não é tão fácil encontrar um lugar onde se possa viver em paz. Sorte a minha? Gostaria que a sorte fosse de todo mundo.

Ontem, fiz algumas entrevistas com refugiados de países africanos que vieram para o Brasil. Ainda está para nascer algo que seja mais difícil do que fugir de uma guerra. Conversei com homens e mulheres arredios, que falavam um português ainda enrolado, mas que não tiveram problema nenhum em me ensinar um pouco de francês e algumas palavras de dialetos locais. Eu disse arredios? Não demorou muito para que soltassem gargalhadas, falando dos filhos pequenos e de como tiveram coragem para buscar uma vida melhor, ainda que longe de casa.

Perguntei a uma das mulheres do grupo, que fazia aulas de artesanato, o que mais ela gostava de aprender e a resposta foi: "Isso não importa. É melhor aprender tudo enquanto existe vida."

Então, "enquanto existe vida" e sabendo que ela é uma só, duas coisas precisam ficar bem claras: Não se desiste de sonho e tudo pode ser economizado, exceto amor e paz.

Sabe quando uma coisa corta e abre o coração da gente ao mesmo tempo? Um jovem congolês que devia ter mais ou menos a minha idade perguntou se eu fazia Jornalismo e eu, com o mais sadio de todos os meus orgulhos, respondi que sim. Mas não era a única. Logo depois ele me disse, igualmente orgulhoso, só que triste: "Eu também fazia Jornalismo no meu país." Ele não sabe, mas o orgulho dele também fez bem para o meu. Espero que eu tenha feito alguma coisa por ele também, mas o que é que eu sei sobre essa vida?
Here to learn. I hope I can teach some day.

domingo, 1 de março de 2009

A little bit of romance...


Porque não tem nada mais romântico e sincero, porque o autor tem o meu sobrenome, o que muito me orgulha, porque eu adoraria que tivessem escrito isso para mim, porque qualquer mulher adoraria que tivessem escrito isso para ela, porque todo homem deveria escrever a mesma coisa para a namorada. Mas, prncipalmente, porque romance nunca é demais.


Para uma menina com uma flor

Vinicius de Moraes


Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado. E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo. E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro. E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois. E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha - a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa. E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.